Nossa História

Aos 19 dias do mês de agosto do ano 1900 a Capela de Nossa Senhora da Conceição de Lourdes foi desmembrada da Paróquia São Francisco Xavier e assim foi criada a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes em Vila Isabel por ato do Emmo. Sr. Arcebispo Cardeal Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.
 
A 15 de fevereiro de 1902 foi realizada a filiação da Confraria de Nossa Senhora de Lourdes à Arquiconfraria de Nossa Senhora de Lourdes, em França.
 
Anos depois a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes até então situada na antiga Praça 07 de Março, hoje Praça Barão de Drummond, mudou-se para o terreno adquirido no Boulevard 28 de Setembro, 200. Assim, a ereção da nova matriz se deu a 07 de maio de 1914. E a 20 de dezembro de 1914 foi lançada a Pedra Fundamental pelo Cardeal Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.
 
A cerimônia de dedicação do novo templo, presidida pelo então Núncio Apostólico no Brasil, Dom Bento Aloísio Masella, ocorreu a 24 de maio de 1943.
 
Alguns anos depois, a 23 de maio de 1959, a Matriz de Vila Isabel recebeu o título de Basílica Menor, concedido pelo Papa João XXIII. Seu tombamento definitivo ocorreu a 31 de agosto de 1990 pelo INEPAC e foi publicado no Diário Oficial de 06 de setembro do mesmo ano.

Párocos

Côn. Climério Correia de Macedo
1º Pároco – 1900

Cônego Climério nasceu no povoado de Juazeiro, Ceará, no dia 30 de junho de 1865 e era filho do professor Semeão Correia de Macedo e Rosa Amélia
Parente Macedo. Foi seu pai quem levou o famoso Padre Cícero Romão Batista ao Juazeiro. Côn. Climério e seu irmão, Pelúsio Correia de Macedo, fundaram e mantiveram a primeira Banda de Música de Juazeiro, existente ainda hoje.
Teve a honra de ser o 1° Pároco da Basílica Nossa Senhora de Lourdes. Mas exerceu este ofício apenas por 2 anos. E em 1923 voltou a Juazeiro do Norte, sua terra natal. Tratava-se de um sacerdote por vocação e homem de muitas virtudes. Já com a idade avançada e doente, viveu os últimos anos de sua vida em Juazeiro, no Sítio Limoeiro, de sua propriedade, o qual deu origem ao bairro de mesmo nome e com devoção à São José. Seu nome é dado a uma rua do bairro Pio XII.
Muitos que ainda vivem conheceram o Pe. Climério pelo fim dos anos 50, quando morreu. Estes afirmam que era um sacerdote virtuoso, muito culto e que ficou mais conhecido depois que retornou à sua terra e viveu na propriedade de sua família, dedicando-se à homeopatia. Recordam que diariamente havia uma verdadeira “romaria” à sua casa de dezenas de pessoas que desejavam se consultar. Ele atendia com muita atenção. Uma particularidade que alguns ainda lembram, era que Pe. Climério usava rapé no nariz e com isso espirrava bastante e fazia um asseio com um lenço todo embolado, que guardava na manga da batina.

Pe. Paulo Delemansur
2º Pároco – 1904

Natural da França, Pe. Paulo Delemasure sucedeu Cônego Climério em 1902, sendo o 2° Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes.
Nasceu em 1843, foi ordenado em 1869 e transferiu-se ao Rio de Janeiro no ano seguinte, 1870. Lecionou Filosofia no Seminário de São José quando este era dirigido pelos padres Lazaristas, na década de 70 do séc. XIX, e foi reitor da antiga Igreja N.S. do Parto no Centro do Rio, demolida e hoje reconstruída no térreo do edifício São José 90, na Rua Rodrigo Silva. Transformou essa igreja em um grande centro de piedade, dividindo-se entre altar, confessionário e atendimento espiritual às almas aflitas.
Muito possivelmente, pelo excelente serviço, foi nomeado cura de nossa recém-criada “freguesia”
Foi ele quem começou a campanha de arrecadação para a construção da nova Matriz de Vila Isabel, visto que a antiga era ainda a pequena capela de Nossa Senhora de Lourdes que ficava em frente à Praça Sete de Março, onde hoje é o Mosteiro da Ajuda. Esta capela era parte integrante da Paróquia São Francisco Xavier até ser desmembrada em 1900 com a criação da nova Paróquia Nossa Senhora de Lourdes. Recentemente, seus restos mortais foram trazidos da quadra da Irmandade de São Pedro, no Caju, pelo Côn. Valtemario, atual Pároco. E hoje encontram-se em nicho mortuário na Basílica Nossa senhora de Lourdes sob o nicho de Nossa Senhora das Dores. Morreu em 11/11/1922.

Monsenhor Francisco Ignácio de
Souza

3º Pároco – 1905

As informações que temos sobre nosso 3° Pároco, Monsenhor Francisco Ignácio de Souza, são bastantes fragmentadas. Sabe-se que foi capelão-tenente em Goiás em 1891, padre agostiniano e Pároco de Nossa Senhora de Lourdes em Vila Isabel entre 1904 e 1912. Após isso, retornou a Goiás e instalou-se no município de Catalão, onde ajudou a fundar o Colégio Sagrada Família, que funcionou entre 1914 e 1925, e o
Colégio Nossa Senhora Madre de Deus, das irmãs Agostinianas Missionárias. Inclusive, sendo um dos responsáveis pela chegada ao município destas primeiras missionárias vindas da Espanha.

Cônego Álvaro Pio César
4º Pároco – 1912

Cônego Álvaro Pio César foi o 4° Pároco de Nossa Senhora de Lourdes. Durante seu governo paroquial foi iniciada a construção da Nova Matriz de Vila Isabel, agora em lugar central do Boulevard 28 de Setembro, com o lançamento da pedra fundamental oficiado pelo Cardeal Arcoverde em 1914. De acordo com o livro de tombo da paróquia, ele chegou a construir um salão e entregou a paróquia ao seu sucessor sem nenhuma dívida, o que nos leva a crer que o terreno da nova Matriz já tinha sido quitado. Era neste salão, hoje salão Santa Bernadete, que ocorriam as celebrações durante boa parte do período de obras da nova igreja.

5º Monsenhor Jaime Sabba Battistoni
5º Pároco – 1918

Monsenhor Jaime Sabba Battistoni foi o 5° Pároco de Nossa Senhora de Lourdes. Era natural da Itália, inicialmente foi padre salvatoriano. Afastou-se de sua congregação de origem para servir à Arquidiocese do Rio. Assumiu a Paróquia em 1918 e teve a árdua missão de erguer a atual Basílica. Seu nome está inscrito em todos os altares laterais da igreja, cujas obras foram executadas em seu governo paroquial. Teve ainda a graça de acompanhar a conclusão das obras internas e externas da igreja até sua dedicação em 24 de maio de 1943. Morreu ainda como Pároco de Nossa Senhora de Lourdes e está sepultado sob o nicho de Nossa Senhora de Fátima, no interior da Basílica. Monsenhor Battistoni foi o único Pároco que teve a honra de ser aí sepultado. Foi sucedido na Paróquia por seu afilhado de crisma, o Monsenhor Tapajós.

Monsenhor José Maria Moss
6º Pároco – 1951

Monsenhor José Maria Moss Tapajós foi o 6° Pároco de Nossa Senhora de Lourdes. Era natural de Petrópolis.
Nasceu em 1913 e morreu em 1990. Foi um grande pároco, intelectual de alto gabarito e ao mesmo tempo pastoralista com grande sensibilidade pastoral. Foi durante seu governo paroquial que a Matriz de Vila Isabel recebeu o título de Basílica Menor. Fundador do Pontifício Instituto de Direito Canônico do Rio, juntamente com D. Romer, foi ainda perito em Roma no Concílio Vaticano II. Grande orador, chegou a ser convidado pelo Cardeal Dom Eugênio Sales para pregar na homilia da solenidade de dedicação do altar da Catedral do Rio. Deixou de ser Pároco em 1973, quando pediu renúncia deste ofício com a solicitação de que Pe. Sérgio Monteiro Saldanha fosse seu sucessor. Atendido este pedido por D. Eugênio, Mons. Tapajós continuou residindo na Basílica com seu sucessor. Muitas de suas iniciativas pastorais são ainda mantidas pela paróquia. E são muitos os paroquianos que ainda hoje recordam seu temperamento forte e suas belas pregações.

Monsenhor Sérgio Monteiro
Saldanha

7º Pároco – 1973

Monsenhor Sérgio Monteiro Saldanha foi o 7º Pároco de Vila Isabel. Nascido em 1925, foi o sacerdote que mais tempo se dedicou à Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, da qual já era oriundo ao ingressar no Seminário de São José. Foi ordenado sacerdote em 1959 e logo feito Vigário Paroquial de Mons. Tapajós. Morreu em 2011 como Pároco Emérito, ainda residindo na Basílica.

Pároco dedicado e zeloso, muito se empenhou pela santificação da Paróquia e conservação da Basílica. Foi Vigário Paroquial de Mons. Tapajós por 14 anos, até que em 1973 foi feito Pároco. A vida de muitas famílias em Vila Isabel foi marcada pelo seu ministério ao longo de mais de 50 anos. Pois a muitos batizou, conferiu a 1ª Eucaristia, casou e encomendou. Monsenhor Sérgio Saldanha ainda hoje é referência em Vila Isabel como pastor zeloso e dedicado.

Cônego Valtemario S. Frazão Jr.
8º Pároco – 2011

Cônego Valtemario Frazão chegou à Basílica Nossa Senhora de Lourdes em 2008 como Vigário Paroquial. Após a renúncia de Monsenhor Sérgio Saldanha ao governo paroquial, foi feito Administrador Paroquial da Basílica, sendo efetivado como 8º Pároco em 2011, após a morte de Mons. Sérgio, que morreu como Pároco Emérito. Ao longo destes anos, Côn. Valtemario Frazão tem dado continuidade ao legado espiritual e pastoral de seus antecessores. Mas tem se dedicado especialmente à divulgação e propagação da mensagem das aparições e devoção à Nossa Senhora de Lourdes em toda a cidade do Rio de Janeiro.

Arquitetura da Basílica Nossa Senhora de Lourdes

A fachada da Igreja é quase toda executada em granito nacional, proveniente do antigo Morro da Viúva, com esbelta imagem da Imaculada Conceição no vértice, sendo dispostos nas laterais do templo as imagens dos santos doutores que contribuíram para o dogma da Imaculada Conceição. Logo abaixo, o escudo episcopal de Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, Arcebispo do Rio de Janeiro que lançou a pedra fundamental da nova matriz e primeiro Cardeal da América Latina. Em seguida, há estátuas representando as três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade.

A porta principal é em jacarandá, ornamentada com cruz de cristal facetado e bronze, sendo ainda circundada pelos bustos dos Doze Apóstolos também em bronze e em tamanho natural e, tendo ao centro, São Paulo, doutor das gentes.

Predomina por toda a parte a cruz, símbolo da redenção. A igreja internamente é também em forma de cruz, estando dispostos ao longo do templo dez altares laterais, cinco à direita e cinco à esquerda. Os altares de São Miguel e Nossa Senhora do Rosário foram dedicados. Os demais altares possuem enormes esculturas de cimento, feitas no próprio local e cobertas com pó de pedra. À esquerda, em capela fechada, encontra-se a pia batismal repleta de imagens simbólicas referentes ao sacramento do batismo, tais como painéis e pinturas bíblicas que versam sobre a necessidade, matéria e feitos do sacramento.

A história das aparições de N. Sra. de Lourdes

No dia 11 de fevereiro de 1858, a Santíssima Virgem Maria aparecia à humilde Bernadete Soubirous, para pedir à Igreja oração e penitência pela conversão dos pecadores. As mensagens de Nossa Senhora, saídas da gruta de Massabielle, nos arredores da cidade francesa de Lourdes, até hoje ecoam no coração dos fiéis que, maravilhados com o amor da Mãe que veio ao encontro de Santa Isabel e vem, agora, ao encontro de seu povo, peregrinam à França buscando alívio para o corpo e para a alma.

A quem deseja conhecer mais profundamente a história das aparições de Lourdes, é recomendado o ótimo livro do sacerdote René Laurentin, um dos mariólogos mais respeitados do mundo, perito no Concílio Vaticano II, Lourdes, relato auténtico de las apariciones, disponível abaixo para download. Essa obra é a narrativa condensada de uma apaixonada pesquisa do padre Laurentin sobre Nossa Senhora de Lourdes. Depois de recolher informações em documentos, testemunhos, artigos de jornal e interrogatórios, o sacerdote escreveu fartos seis volumes sobre as aparições, uma autêntica “biblioteca” sobre o acontecimento. Neste texto disponibilizado aos leitores do site, o padre Laurentin relata, de forma graciosa, como as aparições de uma “bela Senhora” agitaram a vida de Lourdes: além das narrativas da própria vidente, são compiladas as impressões de outras pessoas, ilustrando “em que condições estupendas, apesar de zombarias, de dúvidas e de oposições, a voz daquela menina, mensageira da Imaculada, se impôs ao mundo”[1].

No final de seu livro, René Laurentin evoca quatro pontos principais da mensagem de Nossa Senhora de Lourdes, a saber: a pobreza, a oração, a penitência e a Imaculada Conceição.

Antes de tudo, a pobreza. A eleição de Bernadete Soubirous para receber as aparições da Virgem Santíssima é mais uma amostra da predileção de Deus pelos mais pobres. Como sugere o Papa Leão XIII, oferecendo exemplos bíblicos[2], “é para as classes desafortunadas que o coração de Deus parece inclinar-se mais”[3].

Bernadete era pobre em tudo: social, intelectual e até fisicamente falando. A história de sua família começa com as dificuldades de seu pai em sustentá-la. Em um acidente no moinho, o pai de Bernadete, perde a visão de um dos olhos e já não é capaz de produzir farinha de boa qualidade. Não bastando isso, a crescente industrialização aprimora o processo de produção de farinha, tornando o instrumento da família Soubirous obsoleto e insuficiente. Por fim, uma seca de dois anos faz com que o trigo diminua e insta Francisco Soubirous a vender o seu trabalho braçal para girar os moinhos de outrem. O preço de seu trabalho chega a valer menos que o de um animal, que, por possuir mais músculos, consegue girar o engenho com mais força. Episódios trágicos seguem-se, um após o outro, e chegam a desabrigar a família, que se vê obrigada a morar favor na casa de um parente. Eles vão, então, para um pequeno espaço, apelidado de “cárcere” (” le cachot“, em francês).

Ali, vivendo todas as dificuldades de uma vida humilde, Bernadete contrai uma cólera – doença epidêmica, à época – e, talvez vítima dos desajustados métodos para o tratamento da doença, acaba contraindo uma asma, que não a abandonará até a sua morte.

Bernadete também era analfabeta. Um ano antes das aparições, vivendo na casa de sua ama-seca, esta tentou ensinar-lhe o Catecismo, mas teve muitas dificuldades, pois Bernadete só sabia falar o dialeto. Constantemente maltratada por sua ama, ela voltou para a casa de seus pais.

E foi saindo dali, em fevereiro de 1858, que a Virgem Santíssima lhe apareceu. Estando ela em casa, no cachot, a lenha acaba. Então, ela, sua irmã mais nova e uma amiga vão buscar um pouco de lenha. Chegando perto do córrego, as duas meninas atravessam-no, mas Bernadete, temendo entrar na água fria, por causa de sua asma, fica. Ao tirar as suas meias, para atravessar o riacho, ela percebe uma rajada de vento sobrenatural e, quando olha para a gruta, do outro lado, vê uma jovem, vestida de branco, com uma faixa azul, um rosário e duas rosas douradas nos pés. Instintivamente ela se ajoelha e tenta fazer o sinal da cruz, mas seu braço está como que morto. A Virgem, então, faz o sinal da cruz. Ela imita-a e põe-se a rezar o Terço, “desfiando ela mesma as contas. Esta gruta tornou-se, assim, a sede de uma admirável escola de oração, onde Maria ensina a todos a contemplar com um fervoroso amor o rosto de Cristo”[4].

O Papa Bento XVI, comentando o relato dessa primeira aparição em Lourdes, ressalta o fato de Nossa Senhora saudar Bernadete com o sinal da cruz:

“É significativo que, na primeira aparição a Bernadete, Maria inicie o seu encontro com o sinal da Cruz. Mais do que um simples sinal, é uma iniciação aos mistérios da fé que Bernadete recebe de Maria. O sinal da Cruz é de alguma forma a síntese da nossa fé, porque nos diz quanto Deus nos amou; diz-nos que, no mundo, há um amor mais forte do que a morte, mais forte do que as nossas fraquezas e os nossos pecados. A força do amor é maior do que o mal que nos ameaça. É este mistério da universalidade do amor de Deus pelos homens que Maria veio revelar aqui, em Lourdes. Ela convida todos os homens de boa vontade, todos aqueles que sofrem no coração ou no corpo, a levantar os olhos para a Cruz de Jesus a fim de encontrar nela a fonte da vida, a fonte da salvação.”[5]

De fato, Bernadete sai daquele primeiro encontro revigorada, tal foi o amor no qual esteve imersa durante a visita da Santíssima Virgem. Justo ela, ” la friolera“, não sentia fria a água do riacho; ela, a mais fraca de todas, conseguia carregar os feixes de lenha para casa, sem ofegar e sem dificuldades. E ardia nela o desejo de rever a Senhora.

É interessante: a mensagem de Lourdes dá ênfase à pobreza, mas também fala da oração. Durante várias aparições, nada aconteceu entre Nossa Senhora e Bernadete senão, pura e simplesmente, oração. Enquanto ela se detinha de joelhos, em oração, abstraída de tudo o que estava ao redor, os médicos examinavam o seu pulso; e ele estava absolutamente normal. Até velas colocaram, queimando a pele de Bernadete, mas ela não reagia, compenetrada que estava diante da Virgem, rezando.

Em Lourdes, “Maria vem recordar-nos que a oração, intensa e humilde, confidente e perseverante, deve ter um lugar central na nossa vida cristã. A oração é indispensável para acolher a força de Cristo”[6]. Como diz Santa Teresa de Ávila, a oração é a porta do castelo de nossa alma. Trata-se de uma atitude indispensável a quem está disposto a amar generosamente ao Senhor.

A terceira mensagem de Lourdes é a penitência. Na oitava aparição, Bernadete, que sempre parecia tão tranquila, ficou triste, sombria. “Esse dia Aqueró tinha pronunciado uma palavra nova. ‘Penitência!’ E disse: ‘Rogai a Deus pela conversão dos pecadores!’ Logo lhe pedira que ‘se ajoelhasse e beijasse o solo como penitência pelos pecadores’.”[7]

Nesse ponto, todas as aparições marianas encaixam-se. Todas, sem exceção, pedem à humanidade que faça penitência, que se mortifique. Infelizmente, nem sempre esse pedido de Nossa Senhora é levado a sério. Muitas pessoas – chamadas “aparicionistas” – costumam colecionar informações sobre aparições, preocupam-se exageradamente com previsões do futuro, mas se esquecem de fazer penitência. As mesmas “Martas”, agitadas, que ficam procurando novidades, que são capazes de ir ao outro lado do mundo para procurar a previsão de Maria Santíssima para a próxima semana, deveriam fazer um exame de consciência: Estamos realmente praticando mortificações? As realidades antevistas por Nossa Senhora para o futuro são sempre condicionais: acontecerão, se não se fizer penitência. Então, estamos realmente empenhados em acolher as palavras da Virgem Maria? Penitenciar-se pela conversão dos pecadores é, de fato, muito mais eficaz do que se preocupar orgulhosamente com as realidades futuras, como que em uma “vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e (…) sobre os homens”[8].

Na terceira aparição a Santa Bernadete, Nossa Senhora fará uma promessa importantíssima, cujo conteúdo deve ser levado muito a sério por todos os católicos: ” Non proumeti pas deb hé urousa en este mounde, mès en aoute – Não prometo fazer-lhe feliz neste mundo, mas no outro”[9].

Essas palavras ajudam a desfazer em nós qualquer ilusão de felicidade ou conforto neste mundo. E insuflam-nos um ânimo para verdadeiramente fazermos penitência. Afinal, não é possível amar neste mundo, com a nossa carne manchada pelo pecado, sem passar pela senda da mortificação. Há uma lei dentro de nós que diz: “foge da dor, busca o prazer”. E os cristãos precisam lutar contra essa lei, se querem amar generosamente. Quem quer amar de verdade não pode fazer o juramento de não sofrer. Se formos parar para pensar, as pessoas que realmente nos amam são aquelas que sofreram por nós. Isso acontece porque o amor é uma aliança de sangue, que diz: “Eu derramo o meu sangue, mas não desisto de você”. Na Igreja, que é a comunhão dos santos[10], os efeitos de nossa penitência atingem membros que até nos podem ser desconhecidos. O sofrimento dos santos pode salvar a vida eterna de muitas pessoas.

Na nona aparição, Nossa Senhora manda Bernadete escavar o chão e ali, na gruta de Massabielle, surge uma fonte de água. Trata-se de um convite aos fiéis para renovarem o seu batismo e, ao mesmo tempo, de uma oportunidade para comprovar a veracidade das aparições: são muitíssimos os milagres operados por Deus nas águas de Lourdes, milagres rigorosamente avaliados e amplamente respaldados pela ciência. Em um desses eventos extraordinários, uma mulher tuberculosa, com os pulmões completamente prejudicados, esquelética, já no último grau da doença, tendo passado por vários hospitais especializados, encontrou sua última esperança em Lourdes: ela foi miraculosamente curada, depois de ser imersa na água fria da gruta de Massabielle.

O primeiro milagre da gruta aconteceu pouco depois da décima segunda aparição: uma mulher, de nome Catherine Latapie, que teve “um ombro deslocado, o punho quebrado e os dedos retorcidos”[11] por conta de um acidente, decide ir à fonte, às 3h da madrugada, em busca da cura. Após imergir o braço na água, o membro fica curado e ela vai para casa, para dar à luz o seu filho – que, no futuro, se tornaria padre.

Outro ponto foco da mensagem de Lourdes foi a Imaculada Concepção da Virgem Maria. O Papa que reinava à época das aparições, o beato Pio IX, tinha um método de evangelização bastante ousado: diante da resistência anticlerical vindo principalmente de uma França afetada pela Revolução de 1789, ele decide, com coragem, proclamar os dogmas da Imaculada Conceição e da infalibilidade papal. Na condução de uma Igreja internamente desunida e externamente atacada por todos os lados, o Santo Padre escolhe um remédio de bravura: ser exageradamente católico, reforçar ainda mais a fé cristã, dando ênfase a Nossa Senhora e ao Papa.

De fato, o dogma da Imaculada Conceição de Maria – segundo o qual “a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, (…) foi preservada imune de toda mancha da culpa original”[12] – foi proclamado no ano de 1854, quatro anos antes de a Virgem aparecer na cidade de Lourdes. Tal proximidade entre os dois acontecimentos fez com que São Pio X dissesse: “Apenas Pio IX definira de fé católica que desde a origem Maria foi isenta de pecado, a própria Virgem começava a operar maravilhas em Lourdes”[13].

No entanto, a pequena Bernadete, que não sabia nem que a “bela Senhora” que tinha visto na gruta era a Virgem Maria, muito menos sabia que o dogma da Imaculada Conceição havia sido proclamado por Pio IX.

Então, no dia 25 de março de 1858, festa da Anunciação, Nossa Senhora apareceu-lhe e disse: “Que soy era Immaculada Councepciou – Eu sou a Imaculada Conceição”[14]. Bernadete, que nunca tinha ouvido aquela expressão, saiu da gruta, repetindo para si mesma aquela frase, para contá-la ao padre, que tinha pedido uma comprovação da veracidade das aparições. O sacerdote ficou perplexo, pois conhecia aquela menina, que não tinha feito a primeira Comunhão e, portanto, não sabia o que era a Imaculada Conceição. A partir desse momento, o crédito das aparições aumentou: a Santíssima Virgem acabava de confirmar o método pastoral de Pio IX. Contra os lobos que devoram o rebanho, a solução não é uma conversa tímida e covarde, mas uma paulada na moleira.

Ao mesmo tempo, a realidade da Imaculada Conceição é algo que nos poderia deixar um pouco perplexos. Por que, de tantos títulos, Nossa Senhora decide manifestar-se como “imaculada”, “sem pecados”? Não seria isso desestimulante para nós, tão cheios de pecados e defeitos? Na verdade, não. Maria aparece com toda a sua pureza e santidade para dar ao homem uma notícia: é possível ser santo e amar a Deus perfeitamente, com amor sobrenatural! Os santos “de sétima morada” confiaram na graça de Deus e viveram assim, de forma extraordinária. Além disso, explicava o Papa Bento XVI, em visita a Lourdes:

“Este privilégio concedido a Maria, que A distingue da nossa condição comum, não A afasta antes, pelo contrário, aproxima de nós. Enquanto o pecado divide e nos afasta uns dos outros, a pureza de Maria torna-A infinitamente próxima dos nossos corações, atenta a cada um de nós e solícita do nosso verdadeiro bem. Podeis constatá-lo tanto aqui em Lourdes como em todos os santuários marianos: multidões imensas acorrem aos pés de Maria para Lhe confiar aquilo que cada um tem de mais íntimo, aquilo que cada um tem particularmente a peito. (…) Diante de Maria, precisamente em virtude da sua pureza, o homem não hesita em mostrar-se na sua debilidade, em manifestar as suas interrogações e as suas dúvidas, em formular as suas esperanças e os seus desejos mais secretos. O amor materno da Virgem Maria desarma toda a forma de orgulho; torna o homem capaz de se olhar como é, e inspira-lhe o desejo de se converter para dar glória a Deus.”[15]

Quando as aparições terminaram, a família Soubirous conseguiu melhorar um pouco de vida, mas apenas através do seu trabalho. Repugnava-lhe pensar em ganhar dinheiro à custa da fama das aparições.

Bernadete, que então vivia uma vida de doação aos mais pobres, entrou, com 22 anos, no convento de Nevers, onde passou o resto de sua vida. Tratada com severidade pela mestra de noviças – madre Thérèse Vauzou –, Bernadete viveu, com amor, o recolhimento e a humilhação. Vítima de uma tuberculose, nasceu para o Céu com 35 anos. Trinta anos após a sua morte, exumaram o seu corpo e ele estava incorrupto. O seu crucifixo estava corroído, o terço, oxidado – ou seja, havia umidade –, mas, ela mesma estava intacta. Após a enterrarem e exumarem de novo, o seu corpo continuou intacto. Finalmente, hoje o seu corpo está exposto na igreja de Saint Gildard, em Nevers.

Bernadete Soubirous é a grande pobre de Deus, escolhida para uma vida de profunda humildade. Não se pode ser santo sem ser humilde, sem se recordar pequeno e miserável diante do Senhor. Por isso, a grandeza de Lourdes está justamente na escolha dos pobres.

“Não prometo fazer-lhe feliz neste mundo, mas no outro”. Com os olhos voltados para o alto, imitemos esta grande serva de Deus e busquemos amá-Lo com cada vez mais generosidade. A vida de Bernadete pode não ter sido rodeada de grandes glórias, mas como não invejá-la, agora, que ela goza da verdadeira vida, no Céu?

 

Fonte: https://padrepauloricardo.org/episodios/a-impressionante-historia-de-nossa-senhora-de-lourdes

Água de Lourdes

Nossa paróquia distribui a milagrosa água de Lourdes todo dia 11 de cada mês após a missa e tradicional Benção dos Enfermos a partir das 16 h. Esta água é trazida diretamente de Lourdes, na França, graças às doações dos devotos de Nossa Senhora de Lourdes, para ser distribuída em nossa comunidade aos enfermos que não têm saúde nem recursos financeiros para acorrerem até a Gruta de Massabielle. As doações podem ser feitas diretamente na secretaria paroquial ou por depósito bancário.Banco Bradesco: Agência: 1400-1
Conta Corrente: 16286-8

A Água da Fonte de Lourdes, fonte de bençãos e curas

A 25 de fevereiro de 1858 a Virgem Santíssima aparece pela nona vez à menina Bernadete e lhe diz: Vá beber à fonte e lavar-se. Porém, ainda não havia fonte alguma ali. Mas eis que ela surge miraculosamente.

A fonte de água é o marco da mensagem de Lourdes. É sobretudo um sinal de purificação espiritual. Não se trata de um líquido mágico, com poderes curativos. Deus se serve desta água quando quer como instrumento visível para curas extraordinárias, demonstrando Sua presença neste lugar de abundantes graças. Nada mais.

Um número incalculável de curas ocorre em Lourdes. E para que se chegue à conclusão de que houve ou não milagre, instituiu-se o Bureau des Contestations Medicales, hoje conhecido como Oficina de Lourdes, que possui a função de verificar sob o ponto de vista da Ciência as curas ocorridas e elaborar um dossiê sanitário, que permite certificar tanto a enfermidade anterior, quanto a cura.

Em Paris, há o Comitê Médico Internacional para onde são encaminhados, após o tempo de um ano, casos que a Oficina Médica define como “grande cura”.

A cura deve ser total, imprevisível, duradoura e ter ocorrido há quatro ou cinco anos antes de ser avaliada pelo Comitê. A enfermidade deve ter sido grave (com perigo de morte) e comprovada por exames clínicos.

Como podemos perceber a água de Lourdes não é um elemento mágico, é apenas um elemento comum, que o Senhor utiliza para fazer chegar a Sua graça.

Assim, a cura corporal, que dela poderá advir, é apenas um símbolo da cura produzida no interior. E, por se tratar de um canal da graça divina, necessita por parte de quem a recebe certo grau de fé, ainda que pequeno, o que já será suficiente para mover a virtude da esperança e fazer que nele se opere a vitória de Cristo.

No Novo Testamento, e em especial nos evangelhos, o tema da fé é algo significativo. Escutamos o próprio Senhor falar de sua importância muitas vezes, tal como em Lc 17,19: E disse-lhe Jesus: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”. Se Deus fez por nós a maior parte, se servindo de um elemento comum como a água, como um dos canais por onde ele nos comunica a sua graça, cabe então a nós uma única resposta: a fé. A fé que nos impulsiona ao amor misericordioso de Deus.